Escrevo 110 dias depois do primeiro tratamento de quimioterapia e choro
de orgulho. Orgulho de mim, dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos e
de todas as pessoas que durante 110 dias me encheram de mimo, de mensagens, de
telefonemas, de orações. 110 dias de angustia, de revolta, de dor, mas também 110 dias de boa disposição e muita
vontade de vencer.
Foi o inferno que me salvou.
Inferno esse que foi fazer quimioterapia pois sem ela o cancro continuava a crescer dentro de mim.
Lembro-me da primeira vez que me sentei no cadeirão da sala de tratamentos do
Hospital de Santa Maria, a enfermeira colocava a agulha e as minhas lágrimas
rolavam pela face. Não de dor, mas sim de tristeza. Tristeza por estar gravemente doente,
com um animal maligno de 5,5 cm dentro do meu corpo, tristeza por deixar sonhos
de lado, objetivos adormecidos. Tristeza pelos meus filhos e por mim. Merecia eu esta provação?
Tive
enjoos, tive náuseas, tive dores intermináveis no corpo, momentos em que desistir
era a única maneira das dores passarem. Fiquei sem cabelo, sobrancelhas e
pestanas, sem impressões digitais e tantos outros sintomas e sequelas nestes
110 dias.
As dores passavam e afinal, eu não tinha desistido!
Voltava a ficar forte. A cada tratamento ficava mais debilitada fisicamente mas mais forte psicologicamente e hoje, ainda a
recuperar do último, sinto-me mais forte que nunca. Aprendi a aguentar as dores e já não choro tanto.
Se Mudei? Sim,
mudei! Deixei de ser escrava da dor e dos momentos menos
bons, reorganizei os amigos dando mais valor à qualidade. Transformei dias cinzentos em dias ensolarados. Hoje estou diferente! Estou
mais forte, mais sofrida, mais magoada. Nunca mais
serei a mesma mas continuo a querer viver, a querer amar com todo o coração e a lutar pelo que quero.
Hoje terminam os 110 dias de quimioterapia!
Hoje,
estou orgulhosa de mim!