quinta-feira, 24 de maio de 2018

Hoje o medo venceu!

Hoje sinto-me ausente. Sinto que entrei num “pré luto” de mim mesma. Estou confusa sem saber o que o futuro me reserva. Estarei eu preparada? Tanta incerteza... Sinto-me vazia... Hoje a gargalhada não está presente e os olhos não brilham.

Estou com medo!

Medo de não acordar e medo do acordar... Volto a ter medo da dor. Dor que já não sinto faz uma semana, mas que está ainda tão presente na minha memória. Como será o acordar?

Podia dizer tanta coisa e não consigo dizer absolutamente nada! Não se me flui a escrita, os pensamentos estão desalinhados, não encontro a vontade. Sou forte sim, mas estou cansada.

Fui levada à exaustão!

Estou num desassossego. Desassossego esse que me perturba. Tanta revolta, tanta dúvida, tanta incerteza e ao mesmo tempo tanta vontade de Vencer que paira por aqui!

Lá fora chove mas a tempestade está aqui... dentro de mim!
 
 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

110 dias depois...

Escrevo 110 dias depois do primeiro tratamento de quimioterapia e choro de orgulho. Orgulho de mim, dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos e de todas as pessoas que durante 110 dias me encheram de mimo, de mensagens, de telefonemas, de orações. 110 dias de angustia, de revolta, de dor,  mas também 110 dias de boa disposição e muita vontade de vencer.
 
Foi o inferno que me salvou.
 
Inferno esse que foi fazer quimioterapia pois sem ela o cancro continuava a crescer dentro de mim. Lembro-me da primeira vez que me sentei no cadeirão da sala de tratamentos do Hospital de Santa Maria, a enfermeira colocava a agulha e as minhas lágrimas rolavam pela face. Não de dor, mas sim de tristeza. Tristeza por estar gravemente doente, com um animal maligno de 5,5 cm dentro do meu corpo, tristeza por deixar sonhos de lado, objetivos adormecidos. Tristeza pelos meus filhos e por mim. Merecia eu esta provação?
 
Tive enjoos, tive náuseas, tive dores intermináveis no corpo, momentos em que desistir era a única maneira das dores passarem. Fiquei sem cabelo, sobrancelhas e pestanas, sem impressões digitais e tantos outros sintomas e sequelas nestes 110 dias.
 
As dores passavam e afinal, eu não tinha desistido!
 
Voltava a ficar forte. A cada tratamento ficava mais debilitada fisicamente mas mais forte psicologicamente e hoje, ainda a recuperar do último, sinto-me mais forte que nunca. Aprendi a aguentar as dores e já não choro tanto. 

Se Mudei? Sim, mudei! Deixei de ser escrava da dor e dos momentos menos bons, reorganizei os amigos dando mais valor à qualidade. Transformei dias cinzentos em dias ensolarados. Hoje estou diferente! Estou mais forte, mais sofrida, mais magoada. Nunca mais serei a mesma mas continuo a querer viver, a querer amar com todo o coração e a lutar pelo que quero.

Hoje terminam os 110 dias de quimioterapia!
 

Hoje, estou orgulhosa de mim!


quarta-feira, 9 de maio de 2018

Para ti Mãe...

Comecei a escrever este texto no dia da mãe…
Não consegui passar da segunda frase. Emocionei-me demais. Hoje, já me sinto capaz de escrever tudo o que sinto.
 
Como se diz a uma mãe que a filha tem cancro?
 
Tão difícil ou mais que dizer a um filho. Não há maneira fácil de o fazer. Dizer a uma mãe que está longe, que não nos pode abraçar todos os dias é muito doloroso. Também eu sou mãe, não quero imaginar o que seja, a dor que se sente ao receber uma notícia destas.
Fui a Castelo de Vide no dia a seguir a saber o diagnóstico, dia 30 de Dezembro. Pedi que esperasse por mim em casa para depois podermos ir beber um café. Sentei-me no sofá, bem junto dela, daquela que sempre foi o meu apoio em todas as minhas escolhas, algumas difíceis, outras erradas, outras rebeldes, mas nunca deixou de estar do meu lado.
 
Mãe, estou muito doente, tenho um cancro na mama.
 
Choramos abraçadas uma à outra sem nada dizer, só choramos. De seguida, falamos abertamente sobre o que se ia passar, voltamos a chorar, e, depois de recompostas fomos tomar o nosso café. No dia seguinte era dia de comemorar o Ano Novo e às oo:oo, mãe, voltaste a chorar. Íamos entrar no pior Ano da minha vida, e tu como mãe estavas magoada, revoltada. Fizeste o chamado "luto" e agora já não choras tanto, agora estás cá para me dar força. És simples, leal, honesta, sincera, teimosa, fazes tudo á tua maneira mas és tão bonita por dentro.
 
Obrigada por estares sempre do meu lado e do lado do meu outro pilar, a minha irmã, obrigada por nos ensinares, com os teus exemplos, que a vida não é fácil, por vezes é muito dura, que passamos pelo inferno, vamos ao fundo e de seguida tomamos balanço para voltar á mó de cima, e voltamos sempre mais fortes. Voltamos sempre com a boa disposição e a vontade de viver que tanto nos caracteriza. Sempre te ouvi dizer “Deus, não me leve cedo, que ainda tenho tanto para ver”.
 
Tu não sabes, mas é nestas pequenas coisas que mostras o teu exemplo.
 
Mantem-te forte porque preciso muito de ti... Mãe!