sábado, 28 de abril de 2018

O prometido é devido...

Prometi que não me iria entregar à doença;
Prometi que não me iria entregar à cama;
Prometi que não iria passar os meus dias de pijama, robe e chinelos;
Prometi que iria chorar muito;
Prometi que iria ser forte;
Prometi que nunca iria deixar de sorrir;
Prometi... e o prometido é devido!
 
E orgulho-me disso cada vez mais. Com o aproximar do final da primeira fase de quimioterapia, sinto que estou cada vez mais forte, mais confiante de mim mesma. Como é isso possível? Sinceramente não sei explicar. Ainda hoje me questiono como aguentei e ainda aguento momentos de horror e estou tão bem comigo, tão tranquila, com uma paz de espirito inexplicável.
 
Hoje tenho dores, muitas. Efeito secundário do último tratamento. O meu corpo está debilitado e esgotado de tantos químicos. Dói, não tenho posição para estar, estou impaciente.
 
Hoje estou exausta!!!
 
É muito difícil aguentar estes dias mas tenho junto de mim duas mãos pequeninas que não me largam um segundo. Por eles sou forte, por eles aguento, por eles sorrio.
 
 
Foi por eles e por mim que tudo prometi!!!
 
 
 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O que o Cancro me ensinou


Uma das coisas que o cancro me ensinou foi, que se por um lado a vida não é justa, por outro é bela. Coloquei tudo em causa. De que vale viver a vida de acordo com os padrões? A vida não é para ser padronizada, é para ser vivida. De que vale fazer e idealizar planos se de um dia para o outro tudo muda? De que vale viver de preconceitos pré concebidos? Viver o presente e o momento é a minha máxima.
Não digo que não faça planos, nem que deixe de lado todos os padrões que estão incutidos em mim mas, que de facto mudei, isso mudei. Dou mais importância a quem gosta efetivamente de mim e insisto nas amizades que quero ter e manter por perto. Dou mais importância aos momentos que me fazem bem, que me dão conforto, tranquilidade e que de facto me deixam Feliz.
Outra coisa que o cancro me ensinou foi o tratar do meu corpo como se de um recém-nascido se tratasse. Aprendi a ser enfermeira de mim própria, a administrar injeções na própria barriga, mudei algumas coisas na minha alimentação, e não sendo mais papista que o Papa mas algumas coisas tiveram que mudar. Cada vez mais me convenço de que somos o que comemos e o que pensamos.
Aprendi a cuidar mais da mente, não me focando em pormenores que não têm importância. A dizer o que sentia, questionando o que me incomoda para assim ter paz de espirito. Aprendi a dizer, entre muitas outras, o "gosto muito de ti", "quero que faças parte da minha vida", "a tua amizade é muito importante para mim", pois amanhã posso já não ter oportunidade de o fazer.
Nem tudo o que o Cancro me ensinou foi bom, pois o sentimento de revolta e injustiça está muito presente em mim. E ontem mais uma vez senti essa revolta.
Neste ultimo tratamento, pela primeira vez, estava uma criança. Uma adolescente dos seus 15 – 16 anos. O que fazes tu aqui? Este não é o teu lugar. O teu lugar é na escola, juntos das tuas amigas, a escolheres as roupas, os penteados, a experimentar a sensação das borboletas na barriga, os beijos da adolescência. Este não é o teu lugar, com uma agulha espetada na mão durante 8 horas por onde entram saquinhos de químicos que destroem o mal mas também destroem o bom. De gorro, pois tal como o meu, o teu cabelo já caiu, as tuas sobrancelhas já não desenham o teu rosto, pálida, debilitada. Fez-me de novo sentir aquela revolta de que a vida não é justa. A tal revolta que sinto tantas vezes...
Mas, somos nós que definimos as nossa escolhas e eu escolho ser livre!!
Livre de viver sem dar satisfações, voar sem destino, acordar numa hora que não foi marcada e adormecer os sonhos sem medo do amanhã. Livre para ouvir o som dos meus próprios passos, dar vida às escolhas que quero e mereço. Segurar um mundo que é meu... só meu!!!

O cancro ensinou-me que posso e devo ser liberdade, que me devo libertar de preconceitos e padrões que me acorrentavam. Que tenho o direito de me revoltar e de me sentir injustiçada. Sou a prova viva da vitória que está para vir. A minha vitória... e estou muito orgulhosa!!!

O Cancro ensinou-me a ser livre!!!


 



 


 

 


 


quinta-feira, 19 de abril de 2018

#2 "O Diabo Veste Prada"


Como já referi em textos anteriores, o perder do cabelo e das sobrancelhas, deixou-me, a princípio, com a auto-estima muito em baixo. Aquela imagem completamente careca reflectida no espelho, foi difícil de aceitar para uma “vaidosa” como eu.
Tentei preparar-me psicologicamente mas quando efectivamente aconteceu tive dias de choro. Fiz o chamado luto e agora sinto-me bem, muito bem comigo mesma, com a minha imagem.
E, sentir-me bem com o meu reflexo, tornou-me mais confiante, mais positiva e sorrio com mais frequência. Sabe tão bem ouvir um “estás tão gira”, “nem parece que estás doente”, “esse lenço fica-te tão bem”...
Sou uma sortuda!!!
Estou rodeada de "pessoas bonitas" que me fazem bem, que me fazem sentir especial. E é nelas que vou buscar forças, vontade e ânimo de querer ir sempre mais além. Pessoas que me fazem acreditar que realmente sou especial, que transmitem energia positiva. 
Ser positiva é essencial para a cura, para mais rápido chegar á vitória.
Hoje, não foi de Salto Alto!!
 
Onde é que esta miúda vai buscar tanta energia?!


 
 






 

segunda-feira, 16 de abril de 2018

A Fase do "Patinho Feio"

Perder os cabelos por causa da quimioterapia é difícil mas, perder as sobrancelhas é, a meu ver, pior!
Sem cabelo, posso sair por aí careca como se fosse por puro estilo (ou não), mas a falta das sobrancelhas deixa-me com a tão falada "cara de químio".
 
É a chamada fase do “Patinho Feio”... Rosto redondo e sem contornos.
 
Todas estas fases são complicadas, baixam muito a autoestima, e aquela figura que eu só via na televisão e revistas, está neste momento á minha frente. Tem dias em que olhar no espelho é uma tortura e desato a chorar. Sinto-me o tal Patinho Feio! 
 
Decidi então remediar a situação, e encontrei na Sephora alguns produtos delineadores de sobrancelhas muito fáceis de aplicar. Optei por um espessador de sobrancelhas que permite preencher as mesmas e acentuar o olhar, graças ao seu aplicador pincel/esponja é muito fácil de delinear o contorno.
 
Ora vejam o resultado!
 
  A aplicação do produto. As meninas da Sephora foram umas queridas
 
 
Resultado Final

 
 
 



quinta-feira, 12 de abril de 2018

Prometo...

Prometo que vou tentar, que vou chorar muito mas vou sempre continuar, que vou acreditar e nunca desistir.

Prometo que vou em frente, que não vou recuar só porque existe o medo, que não vou parar só porque existem problemas. Que quando me perguntarem “o que queres ser” responderei “tudo o que quiser ser”.
 
O dia lá fora está cinzento, mas aqui irradia o sol, o meu sol.


Prometo... por mim, por todos os que me amam, por todos os que passam pelo mesmo e principalmente por aqueles que não conseguiram...
 
Prometo Viver!!!
 
 

terça-feira, 10 de abril de 2018

O tempo que passa e não passa

9:27 entra a primeira agulha. Concentro-me nas notícias do Diário da Manhã que passa na TV em frente. Dói, dói muito… bolas!!! A veia rebentou. A enfermeira escolhe outra, tentando perceber qual é que ainda está capaz.
Segunda tentativa, tenta manter a agulha estável e lá conseguiu por uns segundos… bolas!!! Esta também rebentou. Tenta a todo o custo que a agulha fique lá, e mexe. Dói, dói muito… mas… parece que desta ficou, ufa!!!
 
À minha volta os cadeirões estão vazios e a pouco e pouco os fregueses vêm chegando. Um a um, vão sendo preparados para levarem com a sua dose. Cada um de nós tem sacos diferentes, tumores diferentes.  Todos diferentes mas todos no mesmo inferno. Estes fregueses vão saindo, risonhos, desejando as boas melhoras a quem fica. Saem com a sensação de dever cumprido, este já está!!!
Os cadeirões são limpos e venham de lá os próximos... Nonstop!
 
Eu, por lá contínuo, consultando o telemóvel, tentando ler um livro que não consigo, á espera que o tempo passe... O TEMPO!!!
 
O tempo... que nestes momentos é tão cruel, tempo que não passa, que massacra, que tolda o pensamento. O mundo lá fora segue a passos largos. Vejo, da janela da sala de tratamentos, gente atarefada, a falar com rapidez ao telefone, articulando gestos com a mão enquanto falam, de mala na mão e PC na mochila. Eu antes era assim, penso com nostalgia.
Sinto saudades, mas a minha vida agora é esta (eu sei... temporariamente), o meu objectivo agora é este e é nisto que eu tenho de me focar.
 
Estou cansada, muito cansada mas ao mesmo tempo Feliz pois já me encontro em contagem decrescente. Menos um...
 
 
Cada vez mais perto da Vitória!!!
 
 
 

sexta-feira, 6 de abril de 2018

#1 O Poder das Amizades

Ser amigo é ter a capacidade de chorar com a pessoa, de dizer  “Reage”, “Não digas disparates”, “Tu és mais que isso”, “Tem calma”…
Ser amigo é também viver em conjunto os sorrisos, as gargalhadas, os brindes, os abraços, as mensagens de apoio e carinho…
 
É neles, em conjunto com a minha família, que encontro a força e energia para aguentar mais um tratamento que se aproxima.
 
Obrigada por estarem sempre desse lado!
(Almoço de hoje onde nem todos puderem estar presentes mas estiveram de coração)











 

quinta-feira, 5 de abril de 2018

A Mãe tem um Cancro... e agora?


O diagnóstico para além de ter sido um choque para mim, teve também consequências para toda a minha família. Os meses que se seguiram foram meses de descobertas, de angústias e de dúvidas, principalmente o “como vou contar aos meus filhos que a mãe tem um cancro?”.
Será que é absolutamente necessário comunicar aos meus filhos que tenho um cancro? É preciso utilizar a palavra cancro? Uma palavra com um grau de violência tão grande?
A meu ver, sim, sem dúvida.
E porquê? Porque é praticamente impossível guardar segredo sobre uma doença desta natureza. Os meus filhos aperceberam-se de que qualquer coisa se passava, embora não falassem no assunto. Eu estava muito ausente, preocupada, triste, sempre com os olhos vermelhos de choro e todos estes sintomas quer queiramos quer não, chamam a atenção até dos mais pequenos. Foram angustiantes os minutos antes em que decidi que lhes ia contar.Era inevitável!
E, chegou a hora de lhes dizer. “A mãe tem um cancro.
“Vais morrer?” Foi a primeira pergunta que me fizeram. Não meus amores, não vou morrer. A mãe apenas está doente e vai ter que fazer muitos tratamentos para ficar boa, morrer não. É normal associarmos o cancro à morte e foi o que aconteceu cá em casa com esta primeira pergunta por parte do João e do Guilherme. Muitas outras vieram, mas a da morte foi a primeira.
Hoje, passados alguns meses, depois de já ter feito 5 tratamentos de quimioterapia, já sem cabelo e com um aspecto mais debilitado a questão do “Vais morrer?” ainda paira sobre as suas cabecinhas, não falam muito no tema mas inconscientemente a pergunta está lá.
Se é fácil? Não, não é. Foi a pior conversa que tive com os meus filhos, a mais dolorosa e angustiante de todas. O chão deles, tal como o meu no dia em que soube o diagnóstico, fugiu, desapareceu. Ficamos zonzos, á toa…
Terei que ser eu a mostrar que tudo vai ficar bem, que não vou morrer, que eles podem contar comigo, que estarei sempre ao lado deles, que sou e vou continuar a ser um dos seus pilares junto com o Pai. E muito importante, nunca esconder o que se está a passar, como é óbvio adaptando a conversa às idades, mas sem segredos. É esta a minha missão como mãe!
 
A mãe tem um cancro sim, mas não vai morrer…
 

1ª foto que o Gui me tirou depois de perder o cabelo
 

terça-feira, 3 de abril de 2018

Aceitar ou não aceitar... eis a questão!


Hoje na sessão de acupuntura colocou-se a questão:
 “será que já aceitei a minha doença?”
Muito sinceramente, não sei. Dói, causa-me tristeza cada vez que olho no espelho, incomoda-me o facto de ser eu a ter que passar por isto… Porquê eu? Porquê nesta altura da minha vida? Será justo ter sido eu? Para todas estas questões não consigo ter respostas.
 
Como sabem, todos nós nascemos com células cancerosas podendo essas células nunca se desenvolver. Algumas desenvolvem-se devidas á genética e outras, devido a fatores emocionais. Li que quando a mente entra em tristeza profunda, o corpo deixa de ter meios para combater o desenvolvimento de doenças, e é aí que elas aparecem.
Em toda a nossa vida, em todas as nossas vivências, passamos por situações mais ou menos dolorosas, e, quando essas mesmas situações não são de todo “arrumadas” a carga emocional é brutal começando o físico a dar sinais de debilidade. É mais fácil empurrar para debaixo do tapete o que nos faz sofrer do que resolver de uma vez por todas o que nos incomoda.
Se aceitei? Não sei…
Se toda a carga emocional teve a ver com o aparecimento da doença? Não sei…
Se é de origem genética? Ainda não sei…
 
Certo é, que a luta diária tem de continuar, aguentar e superar os momentos menos bons, em que as dores são constantes e aproveitar o intervalo para sorver o que a vida tem de bom… a sorrir!!!
 
Sempre de Salto Alto!