sábado, 29 de dezembro de 2018

365 dias depois...


Para muitos é apenas um Ano, para mim são 365 dias... 365 dias de dor, de angustia, de choro, de luta, mas também de sorrisos, força e coragem. Não houve um dia, desde 29 de Dezembro de 2017 que não tivesse uma dor, que não chorasse. Dias em que pensei desistir, pois era a única maneira da dor passar nos dias em que a mesma não tirava folga um segundo que fosse. Faz hoje um Ano que fiquei sem chão...

365 depois não desisti e uma vez careca, careca a vida toda e com a obrigação de nunca o esquecer.  Tenho a obrigação de valorizar o que tenho, de olhar para o que importa e para quem importa e tenho a obrigação de contar a minha história

Vi coisas que muitos de vocês, felizmente, não viram. Tive nas minhas mãos espetadas agulhas durante 5 horas, tive veias a rebentar cada vez que a agulha penetrava a pele, tive que olhar no espelho e ver outra que não eu, tive dores intermináveis que me deixavam esgotada. Adormeci no bloco operatório com a imagem dos meus filhos a sorrir e as lágrimas rolavam pela face. O que mais queria era acordar e voltar a sentir os meus dois guerreiros nos meus braços, sentir o seu cheiro, ouvir as suas vozes quando me chamam de mamã. Acordei sim... acordei com dois tubos espetados no peito, amputada e desfeita por dentro. O Cancro? Esse ficou no bloco operatório e espero que para sempre!!

Ouvi tantas histórias iguais à minha e conheci tantas outras, cheias de esperança, que tal como eu são umas guerreiras, com uma força inexplicável. Mulheres que deixaram o seu país, os seus filhos, a sua família para lutar contra um filho da puta de um Cancro. Vi meninas adolescentes que deviam estar a viver o primeiro amor, a escolher que roupa levar para a festa de fim de ano... não deviam estar ali, carecas, frágeis, doentes. Não é justo!

Não vou mais guardar rancor nem deixar de dizer palavras de amor e carinho a quem mais gosto. Tenho a obrigação de ser grata pela segunda oportunidade que a vida me deu e amar cada pedaço de mim. Tenho a obrigação de ser feliz, à minha maneira...

Ao meu lado já não quero seres perfeitos, mas sim seres de verdade, que me façam acreditar na palavra "confiar". Ao meu lado quero o sorriso escancarado dos meus filhos e de quem genuinamente me quer bem. 

Tive a vida em perigo e por isso, tenho a obrigação de nunca o esquecer!

Dar e receber... Porque a vida nasceu simplesmente, para se viver!



quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Do you speak English?

Não. Eu arranho Inglês, arranho muito eheheheh. É claro que trago toda uma bagagem no que toca a vocabulário do meu querido Alentejo, vejamos: 

Dizia-se que em casa de fulano tal se praticava o swim. Ora se era um primeiro andar com três assoalhadas, duvido que alguém conseguisse nadar...
Enfim... deixemos o sexo de parte! 

Quem nunca entrou num café em pleno Alentejo e ouviu “queres o pastel can´t ou free?” ou então “para mim é uma meia de late”. Ainda hoje a minha querida mãe me liga todos os dias e diz “filha, está cá tanto free”. 

Lembro-me de com os meus 18/19 anos, entrar na cabine telefónica e ligar para o meu namorado (ai o que eu gostava de rodar os números naquele telefone…)
- “Oi, sou eu!” – Estúpido, claro que era eu.
- “Tou em casa.” – mais estúpido ainda… claro que estás em casa, o telefone é fixo… no comments!
- “Queria tanto star contigo!” 

Lembro as noites passadas na tasca do Roby a beber “pardalinhos” de bagaço com ginja (sim, pardalinhos porque Shots era estrangeirismo da cidade grande) e num jogo da moeda se ouvir “estás a fazer black”. Oh céus!!! É bluff meu amigo… Helloooo!!! Bebiam tanto que ficavam "entrance"
No dia seguinte estavam doentes, com a garganta a arranhar e a voz rouca. Havia quem se queixasse bastante e dizia: “ nunca to see tanto na minha vida".

Já na casa de uma querida amiga minha, a avó queixa-se que já não há diálogo ao serão... estão todos "onlight".

Posto isto, e para aprofundar os meus conhecimentos desta língua tão universal, entre tratamentos, aguentar as contra indicações do mesmo e esquecer por alguns momentos as dores, vai que decidi estudar inglês. Existem vários cursos online e gratuitos, basta querer... Porque querer é poder!

Desta forma, espero conseguir utilizar o humor a meu favor e aprender, porque o aprender nunca ocupou lugar e nunca é tarde para o fazer. É efectivamente uma lacuna que pretendo preencher e que espero vir a conseguir! 
Com esforço, trabalho e dedicação tudo se consegue na vida.
Am I right? Go girl... you can!


Bye bye my sweet readers, see you at the next level!!!



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pequenas vitórias!


E se as guerras são feitas de pequenas vitórias, hoje tenho mais uma conseguida. 

Já fui passear sem lenço na cabeça!

Desde Fevereiro, altura em que o meu cabelo caiu na sua totalidade, que uso lenços. A queda do cabelo foi para mim um dos processos mais difíceis nesta doença. Foi doloroso vê-lo cair em madeixas inteiras, ver uma figura estranha no espelho, figura essa que só via na televisão e nas revistas, não era eu... e para quem adora cabelo comprido foi um choque ver-me completamente careca.

Pois que chegou a hora de dizer adeus aos lenços e mostrar orgulhosamente o pequeno cabelo que já nasceu. 

Ainda não estou bem certa se digo o adeus definitivo aos lenços, mas para já vou-me habituando à nova figura. 

O que acham?



sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A quem me faz bem... Obrigada!!

Obrigada por me fazerem ver que o mundo é enorme e belo, por me ajudarem a acreditar que os dias maus são passageiros e que os dias de sol compensam os dias cinzentos. 
Obrigada por me mostrarem que é possível recomeçar e que na vida podemos sobreviver a tudo, até mesmo a um cancro. Obrigada por me fazerem feliz, por me acompanharem nesta caminhada que é minha mas que muitos tornaram sua também.
Obrigada por fazerem parte da minha história!
Hoje estou cansada, doente, com o meu corpo esgotado, mas nem por isso deixo de ter um sorriso de menina feliz, que roda de braços abertos e olhos fechados, sentindo apenas o vento beijar a face. 
Obrigada por me ensinarem a ter coragem para escrever o que vai no meu coração!
Fica uma beijoca para vocês eheheh!!!

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O que eu tenho a dizer sobre o filme "O que de verdade importa"


Adorei!!! A história é giríssima, um misto de comédia, de magia e um pouco de drama à mistura. Tem cenas hilariantes e o próprio drama do Cancro é abordado de uma maneira tão suave que não choca. Não há no filme cenas chocantes, pelo contrário, existem é cenas bem divertidas. 

É sobre Alec, um engenheiro mecânico com poderes de "curandeiro". Poderes que o próprio não entende e não aceita até que conhece a hilariante Abigail, uma adolescente que luta contra um cancro.  
Além de passarem um bom bocado, estão a ajudar o IPO. Para quem não sabe, as receitas do filme vão para a construção da nova unidade de transplante de medula. 

Uma forma divertida de ajudar... Nenhuma criança deveria passar por este inferno. Vão ao cinema!!! 


Hoje por elas, amanhã por qualquer um de nós!!!






quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Adeus aos 44!

Hoje é véspera do meu aniversário. Estou nostálgica, pensativa, rio e choro ao mesmo tempo com saudades do que ficou lá atrás. Estou numa montanha russa de emoções.

Um ano de grandes provações, de muita dor, de muita incerteza, mas também um ano de muita aprendizagem. Nada acontece por acaso, certo?

Estarei eu errada ou este cancro veio para me ensinar o verdadeiro sentido da palavra Viver? 

Não sei… O tempo se encarregará de dar a resposta!!!



terça-feira, 14 de agosto de 2018

Para a minha irmã...


Porque és a minha metade… Porque és a minha irmã… Porque és a minha amiga… Porque és um dos meus portos de abrigo... Porque és um exemplo de mulher... Porque é um orgulho ser tua irmã... Porque o teu olhar faz-me acreditar que vou ser capaz!

Choraste tanto quando soubeste que eu estava doente. Os teus olhos não sorriam quando te vi, eram apenas um mar de lágrimas. Eram o espelho de uma noite em claro, de uma noite sofrida. Não tenhas medo do amanhã, mantém o teus passos em terra firme, procura o Sol mesmo nos dias cinzentos. Lembra-te que somos de todas as cores que sonhamos num mundo a preto e branco. 

Temos em nós uma bagagem de vida pesada, bagagem que só nós podemos carregar, verdades que só a nós pertencem. Mas nunca desistimos... Vamos sempre persistir e mostrar a todos a nossa coragem de vencer e superar os obstáculos que a vida nos oferece. 

Mantêm-te forte, porque só seremos completas com a metade uma da outra! 

Porque nós Guerreiras, sempre acreditamos!!!



segunda-feira, 2 de julho de 2018

Um dia ensino-te...

Um dia ensino-te o que é combater um monstro. Um monstro chamado Cancro. Monstro que arrasa tudo por onde passa, que te deixa vazia por dentro, que te mutila sem pedir autorização. Monstro que destrói sonhos e vontades, que te mostra que afinal nada tens, que nada é teu de verdade.

Um dia ensino-te o que é sentir mágoa, o que é sentir injustiça, o que é sentir desalento, o que é perder a força e mesmo assim continuar. O que é sorrir à dor e mostrar alegria na exaustão, o querer abraçar e não conseguir. Um dia ensino-te o que é olhar no espelho e chorar, o que é a nostalgia do recordar, o que é sofrer em silêncio sem nunca fraquejar.

Um dia ensino-te que a beleza é efémera e que o amor não é uma definição que se aprende nos livros. Ensino-te a beleza de um toque, de um olhar, de um sentir, de uma palavra, de momentos... do aqui e agora. Ensino-te que enquanto houver vida não podes desiludir a esperança.

Um dia ensino-te o que é recomeçar, o que é voltar a ter esperança, voltar a sorrir, voltar a sentir, voltar a amar…


Um dia ensino-te o que é a Coragem!

Um dia… hoje não!





quarta-feira, 13 de junho de 2018

Agradecer... Sempre!

O Cancro ensinou-me a chorar, a aceitar, a celebrar mas sobretudo a agradecer...
 
Faz mais ou menos três semanas que estou em “retiro” comigo mesma. Precisava destes dias, precisava chorar todas as lágrimas, chorar até as mesmas terem o sabor a água doce. Precisava voltar a sentir revolta, voltar a questionar e voltar a aceitar.
 
E chorei… chorei muito!
 
Agora, não me apetece chorar mais. Quero sim vencer este monstro, monstro que continua aqui, silencioso e traiçoeiro. Quero mostrar ao mundo que sou capaz de o vencer, que não desisto, que sou teimosa. Que leva uma parte de mim mas não leva o melhor de mim, não leva o que sou, o que me caracteriza. Quero celebrar a vida e agradecer, agradecer muito.
 
Estamos tão focados em pedir, que nos esquecemos de agradecer. Agradecer o bom e o mau que a vida nos dá. Tantas boas lições que aprendemos com o mau, certo? A vida deu-me um cancro, mas ensinou-me o que é ter uma segunda oportunidade. Não podia ter filhos, mas fui brindada com dois meninos, meigos, saudáveis, lindos e de quem tenho um orgulho enorme. Deu-me uma família que mesmo longe está sempre perto, sempre atenta, sempre unida. Estou rodeada de bons amigos e trabalho com pessoas extraordinárias. 
 
Por mais anos que viva, nunca vou conseguir agradecer a todos, o carinho e apoio que me deram nesta fase menos boa.
 
“ A gratidão é o único tesouro dos humildes” 
 William Shakespeare
 
Agradecer... Sempre!


quinta-feira, 24 de maio de 2018

Hoje o medo venceu!

Hoje sinto-me ausente. Sinto que entrei num “pré luto” de mim mesma. Estou confusa sem saber o que o futuro me reserva. Estarei eu preparada? Tanta incerteza... Sinto-me vazia... Hoje a gargalhada não está presente e os olhos não brilham.

Estou com medo!

Medo de não acordar e medo do acordar... Volto a ter medo da dor. Dor que já não sinto faz uma semana, mas que está ainda tão presente na minha memória. Como será o acordar?

Podia dizer tanta coisa e não consigo dizer absolutamente nada! Não se me flui a escrita, os pensamentos estão desalinhados, não encontro a vontade. Sou forte sim, mas estou cansada.

Fui levada à exaustão!

Estou num desassossego. Desassossego esse que me perturba. Tanta revolta, tanta dúvida, tanta incerteza e ao mesmo tempo tanta vontade de Vencer que paira por aqui!

Lá fora chove mas a tempestade está aqui... dentro de mim!
 
 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

110 dias depois...

Escrevo 110 dias depois do primeiro tratamento de quimioterapia e choro de orgulho. Orgulho de mim, dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos e de todas as pessoas que durante 110 dias me encheram de mimo, de mensagens, de telefonemas, de orações. 110 dias de angustia, de revolta, de dor,  mas também 110 dias de boa disposição e muita vontade de vencer.
 
Foi o inferno que me salvou.
 
Inferno esse que foi fazer quimioterapia pois sem ela o cancro continuava a crescer dentro de mim. Lembro-me da primeira vez que me sentei no cadeirão da sala de tratamentos do Hospital de Santa Maria, a enfermeira colocava a agulha e as minhas lágrimas rolavam pela face. Não de dor, mas sim de tristeza. Tristeza por estar gravemente doente, com um animal maligno de 5,5 cm dentro do meu corpo, tristeza por deixar sonhos de lado, objetivos adormecidos. Tristeza pelos meus filhos e por mim. Merecia eu esta provação?
 
Tive enjoos, tive náuseas, tive dores intermináveis no corpo, momentos em que desistir era a única maneira das dores passarem. Fiquei sem cabelo, sobrancelhas e pestanas, sem impressões digitais e tantos outros sintomas e sequelas nestes 110 dias.
 
As dores passavam e afinal, eu não tinha desistido!
 
Voltava a ficar forte. A cada tratamento ficava mais debilitada fisicamente mas mais forte psicologicamente e hoje, ainda a recuperar do último, sinto-me mais forte que nunca. Aprendi a aguentar as dores e já não choro tanto. 

Se Mudei? Sim, mudei! Deixei de ser escrava da dor e dos momentos menos bons, reorganizei os amigos dando mais valor à qualidade. Transformei dias cinzentos em dias ensolarados. Hoje estou diferente! Estou mais forte, mais sofrida, mais magoada. Nunca mais serei a mesma mas continuo a querer viver, a querer amar com todo o coração e a lutar pelo que quero.

Hoje terminam os 110 dias de quimioterapia!
 

Hoje, estou orgulhosa de mim!


quarta-feira, 9 de maio de 2018

Para ti Mãe...

Comecei a escrever este texto no dia da mãe…
Não consegui passar da segunda frase. Emocionei-me demais. Hoje, já me sinto capaz de escrever tudo o que sinto.
 
Como se diz a uma mãe que a filha tem cancro?
 
Tão difícil ou mais que dizer a um filho. Não há maneira fácil de o fazer. Dizer a uma mãe que está longe, que não nos pode abraçar todos os dias é muito doloroso. Também eu sou mãe, não quero imaginar o que seja, a dor que se sente ao receber uma notícia destas.
Fui a Castelo de Vide no dia a seguir a saber o diagnóstico, dia 30 de Dezembro. Pedi que esperasse por mim em casa para depois podermos ir beber um café. Sentei-me no sofá, bem junto dela, daquela que sempre foi o meu apoio em todas as minhas escolhas, algumas difíceis, outras erradas, outras rebeldes, mas nunca deixou de estar do meu lado.
 
Mãe, estou muito doente, tenho um cancro na mama.
 
Choramos abraçadas uma à outra sem nada dizer, só choramos. De seguida, falamos abertamente sobre o que se ia passar, voltamos a chorar, e, depois de recompostas fomos tomar o nosso café. No dia seguinte era dia de comemorar o Ano Novo e às oo:oo, mãe, voltaste a chorar. Íamos entrar no pior Ano da minha vida, e tu como mãe estavas magoada, revoltada. Fizeste o chamado "luto" e agora já não choras tanto, agora estás cá para me dar força. És simples, leal, honesta, sincera, teimosa, fazes tudo á tua maneira mas és tão bonita por dentro.
 
Obrigada por estares sempre do meu lado e do lado do meu outro pilar, a minha irmã, obrigada por nos ensinares, com os teus exemplos, que a vida não é fácil, por vezes é muito dura, que passamos pelo inferno, vamos ao fundo e de seguida tomamos balanço para voltar á mó de cima, e voltamos sempre mais fortes. Voltamos sempre com a boa disposição e a vontade de viver que tanto nos caracteriza. Sempre te ouvi dizer “Deus, não me leve cedo, que ainda tenho tanto para ver”.
 
Tu não sabes, mas é nestas pequenas coisas que mostras o teu exemplo.
 
Mantem-te forte porque preciso muito de ti... Mãe!
 
 

sábado, 28 de abril de 2018

O prometido é devido...

Prometi que não me iria entregar à doença;
Prometi que não me iria entregar à cama;
Prometi que não iria passar os meus dias de pijama, robe e chinelos;
Prometi que iria chorar muito;
Prometi que iria ser forte;
Prometi que nunca iria deixar de sorrir;
Prometi... e o prometido é devido!
 
E orgulho-me disso cada vez mais. Com o aproximar do final da primeira fase de quimioterapia, sinto que estou cada vez mais forte, mais confiante de mim mesma. Como é isso possível? Sinceramente não sei explicar. Ainda hoje me questiono como aguentei e ainda aguento momentos de horror e estou tão bem comigo, tão tranquila, com uma paz de espirito inexplicável.
 
Hoje tenho dores, muitas. Efeito secundário do último tratamento. O meu corpo está debilitado e esgotado de tantos químicos. Dói, não tenho posição para estar, estou impaciente.
 
Hoje estou exausta!!!
 
É muito difícil aguentar estes dias mas tenho junto de mim duas mãos pequeninas que não me largam um segundo. Por eles sou forte, por eles aguento, por eles sorrio.
 
 
Foi por eles e por mim que tudo prometi!!!
 
 
 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O que o Cancro me ensinou


Uma das coisas que o cancro me ensinou foi, que se por um lado a vida não é justa, por outro é bela. Coloquei tudo em causa. De que vale viver a vida de acordo com os padrões? A vida não é para ser padronizada, é para ser vivida. De que vale fazer e idealizar planos se de um dia para o outro tudo muda? De que vale viver de preconceitos pré concebidos? Viver o presente e o momento é a minha máxima.
Não digo que não faça planos, nem que deixe de lado todos os padrões que estão incutidos em mim mas, que de facto mudei, isso mudei. Dou mais importância a quem gosta efetivamente de mim e insisto nas amizades que quero ter e manter por perto. Dou mais importância aos momentos que me fazem bem, que me dão conforto, tranquilidade e que de facto me deixam Feliz.
Outra coisa que o cancro me ensinou foi o tratar do meu corpo como se de um recém-nascido se tratasse. Aprendi a ser enfermeira de mim própria, a administrar injeções na própria barriga, mudei algumas coisas na minha alimentação, e não sendo mais papista que o Papa mas algumas coisas tiveram que mudar. Cada vez mais me convenço de que somos o que comemos e o que pensamos.
Aprendi a cuidar mais da mente, não me focando em pormenores que não têm importância. A dizer o que sentia, questionando o que me incomoda para assim ter paz de espirito. Aprendi a dizer, entre muitas outras, o "gosto muito de ti", "quero que faças parte da minha vida", "a tua amizade é muito importante para mim", pois amanhã posso já não ter oportunidade de o fazer.
Nem tudo o que o Cancro me ensinou foi bom, pois o sentimento de revolta e injustiça está muito presente em mim. E ontem mais uma vez senti essa revolta.
Neste ultimo tratamento, pela primeira vez, estava uma criança. Uma adolescente dos seus 15 – 16 anos. O que fazes tu aqui? Este não é o teu lugar. O teu lugar é na escola, juntos das tuas amigas, a escolheres as roupas, os penteados, a experimentar a sensação das borboletas na barriga, os beijos da adolescência. Este não é o teu lugar, com uma agulha espetada na mão durante 8 horas por onde entram saquinhos de químicos que destroem o mal mas também destroem o bom. De gorro, pois tal como o meu, o teu cabelo já caiu, as tuas sobrancelhas já não desenham o teu rosto, pálida, debilitada. Fez-me de novo sentir aquela revolta de que a vida não é justa. A tal revolta que sinto tantas vezes...
Mas, somos nós que definimos as nossa escolhas e eu escolho ser livre!!
Livre de viver sem dar satisfações, voar sem destino, acordar numa hora que não foi marcada e adormecer os sonhos sem medo do amanhã. Livre para ouvir o som dos meus próprios passos, dar vida às escolhas que quero e mereço. Segurar um mundo que é meu... só meu!!!

O cancro ensinou-me que posso e devo ser liberdade, que me devo libertar de preconceitos e padrões que me acorrentavam. Que tenho o direito de me revoltar e de me sentir injustiçada. Sou a prova viva da vitória que está para vir. A minha vitória... e estou muito orgulhosa!!!

O Cancro ensinou-me a ser livre!!!


 



 


 

 


 


quinta-feira, 19 de abril de 2018

#2 "O Diabo Veste Prada"


Como já referi em textos anteriores, o perder do cabelo e das sobrancelhas, deixou-me, a princípio, com a auto-estima muito em baixo. Aquela imagem completamente careca reflectida no espelho, foi difícil de aceitar para uma “vaidosa” como eu.
Tentei preparar-me psicologicamente mas quando efectivamente aconteceu tive dias de choro. Fiz o chamado luto e agora sinto-me bem, muito bem comigo mesma, com a minha imagem.
E, sentir-me bem com o meu reflexo, tornou-me mais confiante, mais positiva e sorrio com mais frequência. Sabe tão bem ouvir um “estás tão gira”, “nem parece que estás doente”, “esse lenço fica-te tão bem”...
Sou uma sortuda!!!
Estou rodeada de "pessoas bonitas" que me fazem bem, que me fazem sentir especial. E é nelas que vou buscar forças, vontade e ânimo de querer ir sempre mais além. Pessoas que me fazem acreditar que realmente sou especial, que transmitem energia positiva. 
Ser positiva é essencial para a cura, para mais rápido chegar á vitória.
Hoje, não foi de Salto Alto!!
 
Onde é que esta miúda vai buscar tanta energia?!