quarta-feira, 25 de abril de 2018

O que o Cancro me ensinou


Uma das coisas que o cancro me ensinou foi, que se por um lado a vida não é justa, por outro é bela. Coloquei tudo em causa. De que vale viver a vida de acordo com os padrões? A vida não é para ser padronizada, é para ser vivida. De que vale fazer e idealizar planos se de um dia para o outro tudo muda? De que vale viver de preconceitos pré concebidos? Viver o presente e o momento é a minha máxima.
Não digo que não faça planos, nem que deixe de lado todos os padrões que estão incutidos em mim mas, que de facto mudei, isso mudei. Dou mais importância a quem gosta efetivamente de mim e insisto nas amizades que quero ter e manter por perto. Dou mais importância aos momentos que me fazem bem, que me dão conforto, tranquilidade e que de facto me deixam Feliz.
Outra coisa que o cancro me ensinou foi o tratar do meu corpo como se de um recém-nascido se tratasse. Aprendi a ser enfermeira de mim própria, a administrar injeções na própria barriga, mudei algumas coisas na minha alimentação, e não sendo mais papista que o Papa mas algumas coisas tiveram que mudar. Cada vez mais me convenço de que somos o que comemos e o que pensamos.
Aprendi a cuidar mais da mente, não me focando em pormenores que não têm importância. A dizer o que sentia, questionando o que me incomoda para assim ter paz de espirito. Aprendi a dizer, entre muitas outras, o "gosto muito de ti", "quero que faças parte da minha vida", "a tua amizade é muito importante para mim", pois amanhã posso já não ter oportunidade de o fazer.
Nem tudo o que o Cancro me ensinou foi bom, pois o sentimento de revolta e injustiça está muito presente em mim. E ontem mais uma vez senti essa revolta.
Neste ultimo tratamento, pela primeira vez, estava uma criança. Uma adolescente dos seus 15 – 16 anos. O que fazes tu aqui? Este não é o teu lugar. O teu lugar é na escola, juntos das tuas amigas, a escolheres as roupas, os penteados, a experimentar a sensação das borboletas na barriga, os beijos da adolescência. Este não é o teu lugar, com uma agulha espetada na mão durante 8 horas por onde entram saquinhos de químicos que destroem o mal mas também destroem o bom. De gorro, pois tal como o meu, o teu cabelo já caiu, as tuas sobrancelhas já não desenham o teu rosto, pálida, debilitada. Fez-me de novo sentir aquela revolta de que a vida não é justa. A tal revolta que sinto tantas vezes...
Mas, somos nós que definimos as nossa escolhas e eu escolho ser livre!!
Livre de viver sem dar satisfações, voar sem destino, acordar numa hora que não foi marcada e adormecer os sonhos sem medo do amanhã. Livre para ouvir o som dos meus próprios passos, dar vida às escolhas que quero e mereço. Segurar um mundo que é meu... só meu!!!

O cancro ensinou-me que posso e devo ser liberdade, que me devo libertar de preconceitos e padrões que me acorrentavam. Que tenho o direito de me revoltar e de me sentir injustiçada. Sou a prova viva da vitória que está para vir. A minha vitória... e estou muito orgulhosa!!!

O Cancro ensinou-me a ser livre!!!


 



 


 

 


 


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